A reforma trabalhista e a desaposentadoria da senhoridade
Não é de agora que me refiro às novas relações de trabalho até então vigentes no Brasil, há 10 anos, quando ainda ministrava aulas de ética empresarial e trabalhista em cursos de graduação, já me referia a uma possível mudança nesse sentido, sobretudo em função dos avanços tecnológicos, do crescimento desordenado e da explosão demográfica nas grandes cidades, do acesso cada vez mais fácil, ágil e barato à informação de ponta, praticamente em tempo real, e lógico, da conectividade das redes sociais, ingredientes estes que, juntos, produziram grandes transformações em todas as formas de relação: familiares, sociais, e claro, trabalhistas, pois impactaram profundamente o regime celetista até então vigente desde os anos 30, uma vitória para a época e um marco para a humanização nas relações de trabalho existentes até então.
Mas como tudo na vida muda, a nossa CLT não poderia ficar imune a essa realidade, vindo a tornar-se um instrumento obsoleto que, se de um lado ajuda, por outro dificulta já que “privilegia” uma parte, mas distorce pontos que já não atendem à realidade atual e, com isso, prejudica a qualidade dos produtos e serviços produzidos e comercializados interna e externamente impactando sobremaneira a nossa economia, assim, lembro que, há mais de 10 anos, as mudanças avançavam, especialmente nas grandes metrópoles ainda timidamente, mas já dava sinais claros de que, do jeito que estava não podia ficar.
Foi então que se deu início a ideia de flexibilização das relações de trabalho apoiadas nos acordos e convenções coletivas que, embora não se sobrepunham à CLT, tinham (têm) força de lei por representarem amplos acordos firmados entre as empresas e os sindicatos representantes das classes trabalhadoras.
Desse modo, horário flexível, trabalhos free lance, temporários e, principalmente o remoto, aquele feito a partir de casa, por exemplo, ganhavam corpo e produziram uma série ganhos secundários como: ajudou a reduzir o caos no trânsito, contribuiu com o meio ambiente, melhorou a qualidade de vida do trabalhador, estimulou a convivência entre pais e filhos que, por conta do cenário caótico, praticamente não existiam e gerou grande economia nas estruturas físicas das companhias, o que refletiu no bolso do trabalhador, já que este passou a economizar tempo de deslocamento e dinheiro com transporte público e combustível.
No entanto, como nem tudo são flores e toda mudança que se preze promove o caos em suas estruturas e com isso, muitas empresas, objetivando resultados imediatos embarcaram nessa onda e adotaram uma espécie de reengenharia meio às avessas e sem muito planejamento, então, começaram a substituir profissionais de carreira de cargos sêniors, demitindo, aposentando ou fazendo-lhes um convite através dos famosos PDVs (Plano de Demissão Voluntária).
Entrava em cena a C Generation (Geração C, de conectada), normalmente jovens nascidos na década de 90, para os quais às vezes a sensação que passa é a de que o mundo gira em torno do ambiente virtual, pois basta um smartphone e uma conexão 4G ou Wi-fi para desempenhar o seu trabalho, exatamente como estou produzindo esse texto agora para você! Trata-se de uma geração antenada com os acontecimentos, têm solução para quase tudo (o que está sob o seu controle), normalmente são ágeis e bastante competitivos, querem resultados imediatos e por isso chegam rapidamente a postos de chefia, no entanto, têm dificuldades para lidar diplomaticamente e encontrar soluções sustentáveis em meio a um cenário de crise e de incertezas que tenham um baixo impacto no caixa e, principalmente, no clima organizacional, lógico, já que tiveram a sorte de nascer num período em que a economia do Brasil estava estabilizada e as condições de vida mais facilitadas, inclusive no tocante à expectativa de vida no Brasil, que aumentou nos últimos anos.
E não é que agora, curiosamente, as empresas estão recorrendo justamente à experiência dos sêniors para aproveitar as competências que faltam em muitos jovens executivos, por conta, não apenas da sua expertise profissional, mas principlamente de suas habilidades comportamentais, vitalidade, disciplina, responsabilidade, maturidade, já que são ávidos por conhecimento, evolução constante, humildade, e principalmente, o foco nos objetivos e resultados e não mais com o mero cumprimento de uma carga horária, ou seja, passaram a ser donos do seu próprio tempo e por isso, preferem trabalhar como prestadores de serviço sem vínculo empregatício.
Bem vindo aos novos tempos!
Se você tiver alguma dúvida ou quiser saber mais sobre esse e outros assuntos e quiser vê-los respondidos por aqui, mande um e-mail para: fale@cibracoaching.com.br.