Sanguessugas corporativos
Sanguessuga, “verme do filo dos anelídeos, da classe dos hirudíneos, que habita as águas doces e tem ventosas com que se liga aos animais a fim de sugar-lhes o sangue (…) pessoa que explora outra pedindo-lhe constantemente dinheiro; chupa-sangue.” (Dicionário Aurélio).
Lembro-me de quando ainda trabalhava como Gerente Corporativo de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional em uma empresa de grande porte com forte atuação nas regiões norte e nordeste do país somando com vários profissionais e executivos oriundos de vários outros estados do Brasil, sobretudo das regiões sul e sudeste. Foi um período muito importante em minha vida, porque tive a oportunidade de trocar experiências ensinando e aprendendo acerca do trabalho, do mundo corporativo com todas as suas riquezas e mazelas e mesmo da vida cotidiana.
Sempre tive uma forte característica de ser um entusiasta em minhas atividades, sou movido à adrenalina, gosto disso, acho que está no sangue, jamais faço algo simplesmente por fazer, tudo o que faço é com muita satisfação, desde um simples bom dia até a minha presença de palco para uma palestra um bate-papo ou qualquer outra coisa. Assim, lembro-me de, certa vez, ter visitado um departamento e os cumprimentei como o fazia desde que fora contratado em todas as áreas, com um cordial bom dia, acompanhado de um sorriso de orelha a orelha e duas palmas com as mãos, até o cumprimento individualizado, como o faço ainda hoje em minha empresa.
Posteriormente, qual foi a minha surpresa, fui chamado pelo gestor da área – meu par – que me indagou com todo o seu “carioquês” de raiz: – Oh bichão, e aê, não entendi. Qual o intuito daquelas palmas? O que você pretendia com aquilo? Ao que respondi, à época, ainda atônito pela abordagem do colega, a quem tanto admirava e tinha profunda estima e consideração: – Como assim? Apenas fiz o que sempre faço! E ele prosseguiu: – Pois eu deixo aqui registrada a minha indignação e de toda a minha equipe. Que isso não se repita na minha área!
Essas palavras me atingiram em cheio, bem no fundo da alma. Jamais pensei em desrespeitá-lo, minha intenção era tão somente a de compartilhar mais um dia, mais um pouco da minha alegria e da minha satisfação em estar ali, trabalhando, fazendo o que gosto, compartilhando momentos agradáveis com aquelas pessoas, quem sabe até ajudando a alegrar o dia de alguém e óbvio, me retroalimentando de toda aquela energia, porém, ocorreu o inverso, depois daquela conversa fiquei completamente sem ânimo, desgastado, apático, triste, sem forças sequer para teclar, daquele momento em diante tudo o que eu precisava era de uma boa cama pra dormir um sono profundo. Confesso que levei um longo tempo até me recuperar, foi um golpe traiçoeiro em minha auto-estima enquanto estava distraído e “entre amigos”, desferido pelas costas.
No entanto, me recuperei e aprendi com a situação, os sanguessugas corporativos não sugam, à priori, o sangue de outras pessoas, tampouco dinheiro, eles sugam o que você tem de mais precioso, sugam o seu espírito, seu entusiasmo, sua alegria, seu talento. E detalhe, eles não precisam necessariamente ocupar cargos de liderança nas organizações, aliás, empiricamente falando, eles estão em menor escala ocupando cargos importantes, grande parte deles ocupa cargos de média gerência e supervisão, mas também pode ser o porteiro, o inspetor, o faxineiro, ou mesmo aquela secretária da presidência, analistas administrativos e outros profissionais exercendo outros cargos de menor expressão, embora não menos importantes.
E o que é mais interessante, os sanguessugas não estão apenas nas empresas, eles podem estar em qualquer lugar: dentro de casa, na vizinhança, na escola, na faculdade ou mesmo na igreja. Suas ventosas estão ocultas sobre os recônditos da sua frustração, do seu auto-desconhecimento, da sua inveja e amargura.
Então aí vai uma dica para essas pessoas: Descubram-se, dêem vazão para o seu talento, deixe o seu verdadeiro potencial se manifestar, use e abuse da sua criatividade, respeite-se, perdoe-se, acredite que você é uma fonte inesgotável de recursos.
Você não precisa da energia dos outros e nem apagar o brilho de quem quer que seja. Procure acreditar mais em si mesmo e por fim, use suas ventosas para transfundir-se, compartilhando coisas boas, abstraindo o que há de melhor na outra pessoa, sem sugar-lhe, e ao mesmo tempo transmitindo o que você tem de melhor. Desse modo, você vai descobrir um mundo de possibilidades rico e abundante com espaço pra todos.
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